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CARTA DE REPÚDIO - CHAMAMENTO À UNIÃO

CARTA DE REPÚDIO - CHAMAMENTO À UNIÃO
Polo Aquático Data da publicação08/04/2024

ABDA lamenta ato de injúria racial e conclama a todos pela união em prol da transformação social e ética

CARTA DE REPÚDIO

 

A ASSOCIAÇÃO BAURUENSE DE DESPORTES AQUÁTICOS (ABDA), inscrita no CNPJ sob o n° 13.282.547/0001-79, associação de direito privado, sem fins econômicos, de caráter organizacional, filantrópico, assistencial, promocional, recreativo, esportivo educacional, sem cunho político ou partidário, com a finalidade de atender a todos que a ela se dirigirem, independente da classe social, nacionalidade, sexo, raça, cor ou crença religiosa, com sede à rua Fábio Geraldo, 2-12, Jardim Solange - Bauru - SP, vem por meio desta repudiar, veementemente, o lamentável fato ocorrido envolvendo ato de injúria racial contra um de nossos atletas, durante jogo, no último sábado (6/4), em São Paulo (SP).

Antes de mais nada, nossa declaração é, sobretudo, um pedido de união, de uma maior educação, moral e ética dos clubes e também dos jogadores, para que possamos ter, de fato, evolução e desenvolvimento do esporte aliado à educação em nosso país. Em primeiro lugar, ressaltamos que a ABDA não é um projeto social, é um empreendimento social. Dessa forma, nossas crianças são empreendedoras. Elas acordam cinco ou seis horas da manhã, todos os dias, pegam dois ônibus, vão para a escola, depois almoçam, treinam, fazem tarefas e estudam. Muitas dessas crianças dobram atividade, ou seja, fazem natação, atletismo, natação PCD, polo aquático e algumas, ainda, participam de aulas de letramento digital, música ou robótica, oferecidas na própria ABDA.

Obrigatoriamente, dentro da ABDA, para as crianças fazerem parte dos times e disputarem campeonatos, não basta estarem matriculadas nas escolas. Elas têm que ter boas notas. É uma cobrança diária dos treinadores da equipe toda. Para que isso aconteça, a entidade oferece todo o suporte, inclusive com aulas de reforço escolar.

Nos primórdios da ABDA, éramos considerados por muitos como utópicos, irrelevantes, frutos de um trabalho lindo, porém utópico. Após muito trabalho e dedicação de todos envolvidos na ABDA, a utopia se tornou realidade. Nossas crianças se tornaram vencedoras, mais maduras, mais aguerridas, mais nobres. Concomitantemente, também se tornaram boas alunas, bons alunos. Tanto que, hoje, nós temos dezenas de atletas com graduação universitária.

Realizamos a utopia que muitos nos disseram, inúmeras vezes, ser um sonho irrealizável, porque poucos têm amor suficiente, comprometimento, coragem e decência moral de somar com a sociedade e ajudar essas crianças. Nós, pelo contrário, vemos essas crianças como cidadãos em formação, que são nobríssimos para serem empreendedores e terem suas próprias conquistas, quando recebem oportunidades para se desenvolverem.

Ressaltamos que, hoje, as dezenas de graduados trabalham, integralmente, em suas áreas de formação. São engenheiros civis, elétricos, mecânicos, nutricionistas, educadores físicos, psicólogos, fisioterapeutas, entre outras profissões. Temos ainda alunos cursando gastronomia, veterinária, medicina e outras faculdades. Um dos alunos da ABDA se formou em primeiro lugar na Academia da Polícia Militar Barro Branco, entre 17 mil candidatos.

Com todas essas conquistas, acreditamos que estamos no caminho certo. Desde sua fundação em 2010 até o momento, passaram e estão na ABDA 20 mil crianças. Indiretamente, atuamos junto a cerca de 100 mil pessoas na cidade de Bauru, contribuindo, é claro, com o trabalho de outras instituições tão nobres quanto a nossa, com a redução da criminalidade em 60% em nossa cidade, segundo dados da Secretaria de Segurança Púbica.

O que nos cansa como instituição, e não é pouco, é a agressão que nossas crianças estão sofrendo dia a dia, após evoluírem de um momento em que nossos times eram considerados irrelevantes, que perdiam de 30 a 1, 30 a 0 em um jogo, não nadavam competitivamente, não eram excelentes na forma física, porém na moralidade e na ética sempre assim o foram.  A partir do momento em que essas crianças evoluíram como atletas, porque como cidadãos sempre foram evoluídas, a ABDA começou a encontrar uma forma extremamente agressiva de racismo e preconceito.  

Podemos relatar vários atos de injúria, racismo e preconceito que culminaram com nosso cansaço, nesse momento, diante de mais um recente episódio, ocorrido neste final de semana. Entendemos, porém, que é hora de conscientizarmos e unirmos as agremiações que participam dos torneios para que tomem suas devidas atitudes, que venham somar conosco para transformarmos o mundo em um lugar melhor para se viver.

A ABDA oferece, de coração, toda a sua estrutura para que façamos jogos sociais com crianças, como os que realizamos, anualmente, no HaBaWaBa Brasil, onde o principal aspecto é o fair play, a ética, é o aprender a se comportar, admirar, gostar do jogo, viver a disputa de uma maneira decente, honesta e transparente.  A ABDA pactua com esses fundamentos de valor, pregados globalmente na filosofia do evento HaBaWaBa em todos os continentes, e convida as agremiações brasileiras para estarmos juntos nesta transformação. O momento vivemos na sociedade nos pede essa união, para formarmos cidadãos decentes e comprometidos, que se amem uns aos outros. Temos pela frente as Olimpíadas na França. Mas, infelizmente, os ideais centenários de liberdade, igualdade e fraternidade foram rasgados pela humanidade como um todo. Esquecemos e não cumprimos nem o mínimo, que é o companheirismo.

Foi em meio a tudo isso que, neste final de semana, ocorreu mais um fato muito grave, onde o nosso atleta de polo aquático foi alvo de grave injúria racial, fato que provocou uma extrema tristeza inconsolável ao atleta. Cumpre destacar que nosso atleta exerce sua atividade com extrema ética e está cursando o terceiro ano de Engenharia Civil, sendo um excelente aluno.  Portanto, esta demonstração de rancor e ódio é inaceitável dentro da nossa agremiação. Porque receber bem, amar e acolher as pessoas que aqui estão é o princípio da nossa convicção e dos pilares da ABDA desde sua fundação. Este atleta que foi injuriado racialmente está na ABDA desde criança e, com certeza, será um grande profissional. Sendo assim, as palavras do agressor foram vãs e medíocres, causando uma situação inadmissível.

Este episódio demonstra que todos nós - clubes, atletas, técnicos, dirigentes e familiares - temos que evoluir como seres humanos, aprendermos a conviver melhor em sociedade. Convidamos a todos para, juntos, transformarmos essa realidade, para evitarmos que situações como essas e tantas outras deploráveis voltem a acontecer com quem quer que seja.

 

Bauru-SP, 8 de abril de 2024

  

ASSOCIAÇÃO BAURUENSE DE DESPORTES AQUÁTICOS (ABDA)

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