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1 ano de projeto FUTURO

1 ano de projeto FUTURO
Natação Data da publicação30/10/2011

Comemorando um ano, Projeto Futuro nada de braçadas

Fruto do sonho de um empresário e ex-jogador de polo aquático, projeto luta para transformar Bauru em capital nacional da natação e do pólo aquático

Dez medalhas de ouro, nove de prata e seis de bronze, totalizando 25 lugares no pódio. Esse foi o resultado da equipe brasileira de natação nos Jogos Panamericanos de 2011, realizados em Guardalajara, no México, de 15 a 30 de outubro.

No país de quitutes apimentados, nadadores como César Cielo, Thiago Pereira, Felipe França, Joana Maranhão, entre outros, caíram na água e mostraram que o mar, ou melhor, a piscina, estava, sim, para peixes. E peixes brasileiros.

Enquanto isso, milhares de crianças em todo o Brasil não descolavam os olhos da televisão. Cada braçada de seus ídolos servia de lição e de inspiração para a geração que, no futuro, terá a difícil missão de representar o Brasil na modalidade.

?Estou treinando para ser nadador olímpico, igual ao Cielo. Você viu que ele ganhou um monte de medalhas??, questiona o pequeno Mateus Henrique Ferreira, 10 anos, que por conta da pouca idade não consegue pronunciar corretamente o nome do ídolo brasileiro.

Tanto para Mateus quanto para as outras crianças que moram em Bauru, a boa notícia é que o sonho de tornar-se um profissional das piscinas está cada vez mais próximo de ser realizado. Isso porque o Projeto Futuro, que oferece aulas gratuitas de natação e polo aquático para crianças de 7 a 13 anos, está completando um ano e nada de braçadas para transformar Bauru na capital nacional destes esportes.

Tudo começou em outubro do ano passado, quando o empresário e ex-jogador de polo aquático Cláudio Zopone decidiu criar o Projeto Futuro, que tem o objetivo de dar oportunidade a crianças carentes de praticarem natação e polo e garimpar futuros atletas de ponta.

Para isso, Cláudio buscou formar uma parceria com a empresa Multicobra, que cedeu a piscina da antiga sede social do Bauru Tênis Clube para o projeto.

?Nos primeiros meses, fizemos divulgação em escolas públicas e projetos sociais e cerca de 60 crianças se inscreveram. Depois, realizamos dois festivais e a procura aumentou consideravelmente. No fim do ano, tínhamos 400 inscritos?, conta André Anastásio, coordenador do Projeto Futuro.

Com o aumento da demanda, o projeto ganhou a parceria da Sociedade Hípica Brasileira e da Sociedade Bauruense Luso-Brasileira, onde atualmente treinam os atletas que participam de competições. Além disso, no fim do ano, foi criada a Associação Bauruense de Desportos Aquáticos (ABDA), fundamental para que os atletas do projeto pudessem participar de competições.

Atualmente, 1.300 crianças de diferentes bairros da cidade participam do projeto. Algumas, inclusive, já foram competir no exterior, como Kemily Ferreira Leão, 11 anos, e Bruno Henrique Santos de Sales, 11 anos, que participaram do festival internacional de polo aquático Habawaba, na cidade italiana de Lignano Sabbiadoro, ao lado de outras 11 crianças.

?Incentivar as crianças a competirem é fundamental para alcançar os resultados do projeto. Isso porque, além do caráter social que consiste em tirar as crianças das ruas, das drogas e dar oportunidade de praticar um esporte, com disciplina, o projeto propõe impor objetivos aos participantes, de modo que eles se sintam estimulados a conquistá-los e, assim, fazer de Bauru uma referência?, explica André.

Para meados de 2012, a meta é atender 2 mil crianças.

As empresas Multicobra, Bauru Tênis Clube (BTC), Bauru Trans, Tiliform, Consecionárias Auto Raposo Tavares (Cart), Z Incorporações, Sociedade Hípica Bauruense, Sociedade Bauruense Luso-Brasileira e Secretaria Municipal de Esportes e Lazer (Semel) patrocinam o projeto.

Como participar

Qualquer criança com idade entre 7 e 13 anos pode participar do Projeto Futuro e se inscrever nas aulas de natação ou polo aquático. Para isso, os pais ou responsáveis devem procurar a assistente social do projeto, Natália Souza Paulino, durante horário comercial, na sede social do BTC/Multicobra.

?As únicas exigências são que todas as crianças estejam regularmente matriculadas e frequentando a escola e que não apresentem pânico de água?, explica Natália, que ressalta que a idade estipulada é apenas para ingressar no projeto. ?Não tem idade para sair, até porque um dos objetivos é desenvolver atletas de competição?, explica.

A entrada para as piscinas do Bauru Tênis Clube (BTC) fica na rua Cussy Junior, quadra 12. Mais informações sobre o Projeto Futuro podem ser obtidas pelo telefone (14) 3202-9259 ou pelo site www.abdabauru.com.br.

Uma forma de retribuir

Criar o Projeto Futuro e estabelecer a Associação Bauruense de Desportos Aquáticos foi a forma que o empresário e ex-jogador de polo aquático Cláudio Zopone encontrou de retribuir a oportunidade que lhe foi dada ainda jovem.

De família humilde, Cláudio sempre levou uma vida simples e, portanto, não tinha a possibilidade de desfrutar dos benefícios oferecidos aos sócios de clubes bauruenses.

?Até que descobri que o Bauru Tênis Clube oferecia a crianças a oportunidade de treinar polo aquático gratuitamente, como sócio-atleta, e decidi arriscar?, lembra.

Nas piscinas do clube, além de descobrir a paixão pelo esporte e treinar com afinco, Cláudio aprendeu muitas coisas que considera fundamentais para o ser humano, como a humildade, o respeito, o companheirismo e o espírito de equipe.

?São lições de vida que a gente aprende na infância e leva para sempre. Sou o homem que sou hoje graças a essa oportunidade que me foi dada. Por isso, quero retribuir?, afirma.

E os resultados da empreitada já estão aparecendo.

?Estão no sorriso e no olhar de cada uma daquelas crianças?, explica.
 

Irmãos bons de bola

Na casa dos irmãos Henrique Ferreira Leão, 13 anos, e Kemily Ferreira Leão, 11 anos, não tem piscina. Sendo assim, antes de começarem a fazer aulas de natação pelo Projeto Futuro, quando queriam matar a vontade de brincar na água, pediam à mãe para levá-los ao sitio da tia, por onde passa um rio.

?Foi lá que a gente aprendeu a nadar. Era muito divertido, mas nem sempre podíamos ir pra lá quando queríamos. E também não nadávamos do jeito certinho, como aqui na natação. No rio, nós aprendemos o básico para não afundar?, conta Kemily.

Para passar do rio para a piscina, bastou um convite feito pelos professores do Projeto Futuro, que visitaram a escola onde a dupla estuda no fim de 2010 em busca de futuros campeões da natação.

?Quando ficamos sabendo, pedimos para minha mãe matricular a gente. Isso faz um ano. Começamos na natação. No primeiro dia, a professora deu espaguetes para ficarmos na água, mas ela percebeu que não tínhamos dificuldades e logo liberou para nadarmos livres. Pouco tempo depois, passamos para o polo aquático?, conta Henrique.

Os irmãos, que até então nem sabiam que polo aquático era um esporte, gostaram da experiência e em pouco tempo tornaram-se promessas de atletas de sucesso.

?O mais difícil foi aprender a flutuar na água. Tem de ficar mexendo os pés e as mãos alternadamente e em círculo, sem parar. Ao mesmo tempo, tem de pegar a bola?, ensina Kemily, que faz a função de marcação de centro.

?Nos primeiros dias, o corpo não estava acostumado e foi uma dor só. Depois passou?, revela, rindo, Henrique, que joga como ala.

Acostumou tanto que com seis meses de prática do esporte, a dupla já participou de diversas competições e perceberam que têm potencial para tornarem-se colecionadores de medalhas. Kemily, inclusive, viajou para a Itália em junho deste ano, para participar do festival internacional de polo aquático Habawaba, na cidade italiana de Lignano Sabbiadoro.

?Foi muito legal. Foi a primeira vez que eu andei de avião e por isso fiquei com um pouco de medo. Além disso, participar de uma competição tão importante me deu um pouco de nervosismo. Mas o que eu gostei mesmo foi de ver as pessoas falando italiano?, conta.

Pequeno talento

?Meu nome é Bruno e eu jogo polo aquático, sou goleiro. Mas não é fácil, viu?! A piscina é beeeemmm funda, dá minha altura e mais dois braços meus esticados?, apresenta-se o falante Bruno Henrique Santos de Sales, 11 anos, participante do Projeto Futuro e um dos destaques do grupo.

Morador do Parque Bauru, Bruno nunca imaginou que, do alto de seus 1,35 metros de altura, um dia ele seria jogador de polo aquático. Muito menos que um dia participaria de competições importantes do esporte, como o festival internacional de polo aquático Habawaba, na cidade italiana de Lignano Sabbiadoro. Na verdade, até pouco mais de um ano, Bruno nem sabia nadar, muito menos o que era polo aquático.

?Um amigo meu disse que aqui na cidade tinha um projeto que oferecia aulas de natação de graça para crianças e eu pedi para minha mãe me trazer. Foi aqui que aprendi a nadar e hoje sonho em ser jogador profissional de polo?, resume.

E mesmo estando há pouco tempo no esporte, Bruno já tem quatro medalhas muitas histórias pra contar. Entre elas, a da ida para a Itália, em junho deste ano.

Bruno foi acompanhado dos técnicos e de outras 12 crianças que participam do Projeto Futuro. Viajou de avião pela primeira vez, gastou em euros, aproveitou a praia e a estrutura do hotel e, é claro, comeu a famosa pizza italiana.

?Foi muito legal! Quando eu entrei no avião a primeira vez, fiquei com um pouco de medo, mas depois deu pra aproveitar bastante. Como estava calor na Itália, deu pra conhecer bastante a cidade e até fomos pra praia?, conta, animado, ele que trouxe na mala um óculos de natação italiano e um bichinho de pelúcia.

Para não falar na pizza, que rende comentários entre os colegas até hoje. ?Era uma pizza enorme, cada pedaço ocupava o prato inteiro. Não é como as pizzas daqui, sabe??, descreve.

E quanto à competição, Bruno garante que, mesmo não conquistando medalhas, valeu a pena.

?É que lá na Itália o polo aquático é como o futebol no Brasil. Não tem como competir com eles, que nascem jogando polo, com apenas seis meses de treinamento. Mas eles que nos aguardem...?, avisa, em tom de brincadeira.
 

Planos de um futuro bom

Mateus Henrique Ferreira tem apenas 10 anos, mas já responde com convicção à pergunta que causa indecisão e insônia em muitos estudantes em fase de vestibular: Qual profissão você pretende seguir?

?Quero ser nadador profissional. Desses que vão para as olimpíadas. Igual ao Cielo?, dispara o pequeno, que por conta da pouca idade tem dificuldade em pronunciar o nome do ídolo brasileiro, mas logo se faz entender. ?O Cielo, sabe? Aquele que tem um monte de medalha e sempre bate recordes?, explica.

E assim como o ídolo, Matheus também fica bem à vontade com entrevistas. Na manhã da última terça-feira, ele saltou para fora da piscina onde fazia aula e, enrolado em uma toalha, contou com desenvoltura como começou seu amor pela natação.

?Foi por acaso. Eu moro no Ferradura Mirim e participo do Projeto Caná. Daí, um dia, a professora disse que íamos começar a fazer aulas de natação aqui no Bauru Tênis Clube e eu obedeci?, resume.

O que ele não imaginava é que ia gostar tanto. Até porque, no primeiro dia, o medo de se afogar na piscina de tem dois metros de profundidade prevaleceu e Mateus passou a aula toda agarrado na borda.

?Ele era um dos alunos mais medrosos. Mal se mexia na água, ficava só nas bordas. Com o tempo, foi ganhando confiança, passou a nadar com espaguete e, atualmente, já nada sozinho o estilo crawl. Ele se desenvolveu muito?, comemora a professora de natação Sandra Regina Lourenço.

?Agora eu até relo os pés no fundo da piscina! E não é fácil, viu?!?, emenda, deixando claro que tem talento suficiente para se tornar um nadador profissional.

O entusiasmo é comemorado pela tia e tutora do garoto, Denise Cristina Ferreira Batista, que acha engraçado ver Mateus e os primos discutindo sobre quem é o melhor dentro d?água.

?É uma empolgação só. Eles chegam da aula contando o que aprenderam e trocando dicas. Acho isso importante, pois, no bairro onde moro, já vi muitas famílias sofrerem por conta do envolvimento de seus filhos com as drogas. Quanto mais ocupados eles estiverem, menos chances darão ao mau caminho?, afirma.

Medalha de cabeceira

Aos 9 anos, Francieli da Silva de Oliveira sentiu o gosto gelado do metal de uma medalha pela primeira vez. A premiação ocorreu há alguns meses, quando a pequena disputou um campeonato de natação e conquistou a largas braçadas o segundo lugar.

Deste então, o a medalha de prata tem lugar fixo e de destaque no quarto da pequena.

?Fica no meu quarto, pendurada ao lado da minha cama. Por enquanto só tenho ela, mas em breve vou ter mais um monte?, planeja, animada.

Francieli aprendeu a nadar há 7 meses, desde que ingressou no Projeto Futuro, trazida pelo Projeto Caná, que atende o bairro onde ela mora, o Ferradura Mirim. Até então, a pequena não fazia idéia da profundidade de uma piscina olímpica.

?Eu já tinha nadado em uma piscina rasa, de uma chácara onde são realizadas as festas de fim de ano da empresa onde meu pai trabalha. Quando vi essa piscina enorme, quase não acreditei. Achei que não fosse conseguir nadar aqui?, lembra, rindo.

A mãe de Francieli, Josefa Isidoro da Silva, ainda custa a acreditar no feito da filha. E reforça, diariamente, antes da pequena sair de casa com trajes de banho na mochila, a recomendação de cuidado.

?Ela e a irmã fazem natação juntas, mas eu nunca as vi nadar. Elas me contaram que a piscina é bem funda. Eu fico com medo de acontecer algum acidente, delas se afogarem. Mas elas sempre me tranquilizam, dizem que fica um monte de professor por perto, olhando as crianças. Então, se elas gostam, tem mais é que aproveitarem a oportunidade que estão tendo?, opina Josefa, que acredita que o esporte é uma forma de manter as filhas afastadas da violência e das drogas.

E se conselhos servem de alguma coisa, lá vai um: fique calma, Josefa. Francieli está tão habituada à piscina, que já nada como um peixe. Na manhã da última terça-feira, quando a equipe do JC nos Bairros acompanhou alguns momentos da aula de natação, a pequena esbanjou charme e talento ao saltar de borda da piscina para dentro d?água e nadar todo o percurso da raia, ida e volta, sem perder o fôlego nem deixar de olhar para as lentes do fotógrafo.

Ídolos para se inspirar    

Se depender de inspiração e incentivo, as crianças que participam do Projeto Futuro e atualmente são seus primeiros mergulhos na natação e no polo aquático com certeza serão os futuros representantes brasileiros no esporte e, de quebra, transformarão Bauru na capital nacional destas modalidades.

Isso porque já estiveram em piscinas bauruenses os jogadores da Seleção Brasileira de polo aquático, como preparação para o Mundial da China, realizado em agosto de 2011; Coaracy Nunes, presidente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), Miguel Carlos Cagnoni, presidente da Federação Aquática Paulista (FAP) e, atualmente, Áttila Sudàr, ex-jogador da seleção da Hungria campeã olímpica em Montreal, no Canadá, em 1976, e bronze em Moscou, na Rússia, em 1980, um dos maiores ícones mundial do polo aquático.

?Áttila foi uma de nossas grandes conquistas. Ele vai treinar as crianças do polo até dezembro. Será uma experiência muito enriquecedora?, avalia Cláudio Zopone, idealizador do Projeto Futuro e presidente da Associação Bauruense de Desportos Aquáticos. (FONTE: JC, domingo 30 de outubro de 2011, por: Wanessa Ferrari)
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